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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Último Angelus de Bento 16 reuniu cerca de 50 mil pessoas

O papa Bento 16 celebrou neste domingo seu último Angelus, abraçado pela mesma frase com que assumiu o papado, faz quase oito anos: a família Alanno trouxe de Pescara, nos Abrúzios, à praça de São Pedro uma cartolina branca em que se lia "Obrigado, humilde trabalhador na vinha do Senhor".
Foi assim que Joseph Ratzinger, que acabava de ser eleito papa, se apresentou à massa concentrada na praça.
Hoje, a massa não era tão compacta. Nem chegava perto das 250 mil pessoas anunciadas na véspera pelos telejornais italianos. Havia pouco mais de 50 mil pessoas, como, de resto, no Angelus do domingo anterior, o primeiro desde que Bento 16 anunciou a renúncia.
A fala durou curtos 12 minutos e foi toda ela lida, com apenas um trechinho improvisado, para "agradecer aos céus por um pouquinho de sol". De fato, o domingo amanheceu iluminado pelo sol, depois da chuva intensa de sábado. Sol de todo modo insuficiente para quebrar o friozinho de Roma, embora nada parecido com o gelo e a neve que caíam no Norte da Itália.
Foi uma fala puramente eclesiástica, que girou toda ela em torno da transfiguração de Cristo, ocorrida no alto de uma montanha e que, segundo a doutrina cristã, representa o encontro do temporal com o eterno.
Bento 16, como se fosse uma explicação para sua renúncia, disse que Deus o chamara ao monte para que se dedicasse à pregação e à oração. Mas - acrescentou - isso "não significa que abandonarei a igreja. Se Deus me pede isso, é para que possa continuar a servi-Lo com o mesmo amor".
A massa explode em aplausos. Ao pé dos 25,5 metros do Obelisco do Vaticano, que enfeita o centro da praça desde 1586, o grupo mais ruidoso é formado por seminaristas brasileiros, a maioria paraibanos.
Agitam seis bandeiras brasileiras, de longe as mais numerosas, derrotando as da Polônia, do México, da Romênia, até da Itália, da Espanha, da Alemanha do papa, do Chile e uma da Índia, de pouca tradição católica.
Wellington da Costa, 34 anos, do Mato Grosso do Sul, é o menos agitado do grupo. Estuda em Roma e só ficou sabendo da renúncia do papa uns 20 minutos depois que a agência ANSA soltou o primeiro aviso.
Wellington não acredita muito em um papa brasileiro no lugar de Bento 16, devido ao grande número de cardeais italianos e europeus que participarão do conclave. Nem se preocupa muito com isso: "O papa não governa para seu país, mas para o mundo".
Ao lado dele, explode o grito "o Brasil é Bento/o Brasil é Bento", depois de "papa, eu te amo".
Os brasileiros vão ao delírio quando, como é da praxe nos "Angelus", o papa diz, em português, "obrigado pela vossa presença e por todas as manifestações de afeto e solidariedade".
Bento 16 agradeceu também em francês - e cinco pequenas cartazes foram alçados para formar a palavra "merci"(obrigado).
Depois, em inglês - e um "thanks" surgiu. Depois, em alemão - e um faixa improvisada dizia "danke". Pulou para o espanhol - e uma faixa bem desenhada avisava: "México junto a vós". Mas os peregrinos chilenos soltam um "pic/pic/pic/ia/ie/viva Chile", omitindo pudicamente o final mais usual que é "viva Chile, mierda".
Vem o polonês - e sobe a bandeira da Polônia. Termina com o italiano, e a família Capruso agradece com a tosca faixa "Ti vogliamo bene" (Te queremos bem).
Mais elaborada é a saudação do conservador Movimento Comunhão e Libertação: "A incrível liberdade de um homem aferrado a Cristo. Obrigado, Santidade".
Nem todos os católicos concordam com tais dizeres, como conta o estudante Dario. Ele se diz "muito próximo do papa", mas admite que um de seus amigos, também católico, lhe disse que a renúncia era "um abandono do barco".
Seja como for, as irmãs Angelina e Maria, na inocência de seus seis e sete anos, erguem seu cartaz colorido que anuncia "non sei solo. Anche io sonno con te" (não está sozinho. Até eu estou com você).
O Angelus termina, os sinos da impressionante Basílica de São Pedro repicam, os fiéis e os curiosos vão saindo devagar, para a felicidade de Elisabetta, a garçonete do café Santa Marta, a passos da praça, que lamentava o número até então muito reduzido de cafezinhos servidos porque a massa não havia sido tão grande quanto o anunciado.
Na loja "O Peregrino Católico", as vendedoras também se queixam: as imagens de Bento 16 se vendem muito pouco, mesmo depois da renúncia. Uma caixa de plástico com a foto do papa custa € 6,90 (R$ 18), o mesmo preço da mais procurada de João Paulo 2º.
A praça vai se esvaziando. Os italianos têm um segundo compromisso histórico: votar para eleger um novo Parlamento e, por extensão, um novo primeiro-ministro. Ou, então, ver na TV um clássico mundano, o derby milanês entre Internazionale e Milan.

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