Jane Goodall diz que foi uma epifania que a levou a deixar para trás seus
pioneiros estudos de observação dos chimpanzés na natureza -que revelaram a
complexidade social e emocional desses animais- e a embarcar numa vida de
ativismo global.
Aquele momento aconteceu numa conferência há 27 anos e a levou a lançar uma
campanha de proteção aos chimpanzés -os que estão na natureza e os que vivem em
cativeiro.
Os ativistas que defendem os direitos animais conquistaram vitórias
importantes no mês passado, quando duas agências dos Estados Unidos tomaram
medidas que, juntas, podem chegar perto de sustar as experimentações médicas com
chimpanzés.
Em 26 de junho, o Dr. Francis S. Collins, diretor dos Institutos Nacionais de
Saúde (NIH, na sigla em inglês), em Maryland, anunciou que mais de 300 dos 360
chimpanzés pertencentes ao NIH serão aposentados em santuários nos próximos
anos.
O anúncio se seguiu à proposta, feita 15 dias antes pelo Serviço de Pesca e
Vida Silvestre dos EUA (USFWS), de incluir os chimpanzés, inclusive os
confinados, na lista de espécies ameaçadas de extinção. O plano aumenta as
barreiras para a realização de experimentos com chimpanzés, ao exigir
autorização para quase qualquer tipo de pesquisa médica com os animais, a não
ser os que envolvam apenas observação ou exames que façam parte de consultas
veterinárias normais. As permissões seriam dadas apenas quando as autoridades
considerassem que a pesquisa em questão seria benéfica aos chimpanzés.
Goodall escreveu sobre seus estudos com chimpanzés ao longo de anos no livro
"The Chimpanzees of Gombe: Patterns of Behavior" (Os chimpanzés de Gombe:
Padrões de comportamento).
Leah Nash/The New York Times | ||
Agências de pesquisas decidiram reduzir o uso de chimpanzés em pesquisas; santuário em Seattle |
"Sempre senti que eu não tinha as credenciais necessárias para enfrentar
alguns desses profissionais de laboratório, com seus aventais brancos", comentou
recentemente, falando de sua casa na Tanzânia. Mas, depois de publicar seu
livro, ela passou a ter mais autoconfiança.
Nos últimos anos, enquanto grupos de defesa do bem-estar animal travavam uma
forte e pragmática campanha contra experimentos invasivos, como sujeitar
chimpanzés a vacinas e tratamentos contra doenças humanas, Goodall teve
conversas ocasionais com Collins, alguém que talvez seja o exemplo máximo em
termos de profissional de laboratório. "Fiquei impressionada desde nosso
primeiro encontro", comentou acerca de Collins. "Ele concordou que algo deveria
ser feito e o fez."
O caminho que levaria às últimas decisões começou em junho de 2010, quando o
NIH começou a transferir 186 chimpanzés que estavam vivendo "semi-aposentados"
em Alamogordo, no Novo México, de volta à vida de utilização em pesquisas. Eles
iriam para o Instituto de Pesquisas Biomédicas do Texas.
"Foi isso o que desencadeou todo o movimento", contou Sarah Baeckler Davis,
da Aliança de Santuários de Primatas da América do Norte. "Foi quando todos nós
começamos a gritar contra a transferência dos chimpanzés."
Os animais tinham sido usados em pesquisas pela Fundação Coulston, na
instalação de Alamogordo, fechada após muitas acusações de maus-tratos. A
entidade Save the Chimps [Salvem os chimpanzés] trouxe alguns deles para a
Flórida, onde existe o maior santuário de chimpanzés da América do Norte. Outros
ainda estavam em Alamogordo, mas não estavam sendo usados em pesquisas.
Políticos conhecidos pediram uma revisão da necessidade de utilizar
chimpanzés em pesquisas. Outros grupos de defesa dos animais se aliaram à causa.
O NIH cedeu, e Collins pediu ao Instituto de Medicina que realizasse o
estudo. Divulgado em dezembro de 2011, o relatório concluiu que há pouquíssima
necessidade de chimpanzés em pesquisas médicas. Os chimpanzés, segundo o
relatório, devem ser usados apenas em casos necessários para a saúde humana, e,
mesmo nessas situações, os animais devem ser abrigados em grupos sociais, com
muito espaço e elementos adicionais.
No mês passado, Collins aceitou o relatório do comitê. "Boa parte das
pesquisas conduzidas com chimpanzés não se justificavam mais, porque tínhamos
outras maneiras de obter as mesmas respostas", disse ele. "Além disso, é preciso
levar em conta que chimpanzés são criaturas especiais."
Os ativistas não defendem apenas os chimpanzés. Para Jane Goodall, "uma vez
que você admite que não somos os únicos dotados da capacidade de pensamento e de
emoção, isso levanta questões éticas sobre como usamos e abusamos de outros
seres".
New York Times/F5.
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