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terça-feira, 30 de julho de 2013

Chimpanzés ganham novos direitos nos EUA

Jane Goodall diz que foi uma epifania que a levou a deixar para trás seus pioneiros estudos de observação dos chimpanzés na natureza -que revelaram a complexidade social e emocional desses animais- e a embarcar numa vida de ativismo global.
Aquele momento aconteceu numa conferência há 27 anos e a levou a lançar uma campanha de proteção aos chimpanzés -os que estão na natureza e os que vivem em cativeiro.
Os ativistas que defendem os direitos animais conquistaram vitórias importantes no mês passado, quando duas agências dos Estados Unidos tomaram medidas que, juntas, podem chegar perto de sustar as experimentações médicas com chimpanzés.
Em 26 de junho, o Dr. Francis S. Collins, diretor dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), em Maryland, anunciou que mais de 300 dos 360 chimpanzés pertencentes ao NIH serão aposentados em santuários nos próximos anos.
O anúncio se seguiu à proposta, feita 15 dias antes pelo Serviço de Pesca e Vida Silvestre dos EUA (USFWS), de incluir os chimpanzés, inclusive os confinados, na lista de espécies ameaçadas de extinção. O plano aumenta as barreiras para a realização de experimentos com chimpanzés, ao exigir autorização para quase qualquer tipo de pesquisa médica com os animais, a não ser os que envolvam apenas observação ou exames que façam parte de consultas veterinárias normais. As permissões seriam dadas apenas quando as autoridades considerassem que a pesquisa em questão seria benéfica aos chimpanzés.
Goodall escreveu sobre seus estudos com chimpanzés ao longo de anos no livro "The Chimpanzees of Gombe: Patterns of Behavior" (Os chimpanzés de Gombe: Padrões de comportamento).
Leah Nash/The New York Times
Agências de pesquisas decidiram reduzir o uso de chimpanzés em pesquisas; santuário em Seattle
Agências de pesquisas decidiram reduzir o uso de chimpanzés em pesquisas; santuário em Seattle
"Sempre senti que eu não tinha as credenciais necessárias para enfrentar alguns desses profissionais de laboratório, com seus aventais brancos", comentou recentemente, falando de sua casa na Tanzânia. Mas, depois de publicar seu livro, ela passou a ter mais autoconfiança.
Nos últimos anos, enquanto grupos de defesa do bem-estar animal travavam uma forte e pragmática campanha contra experimentos invasivos, como sujeitar chimpanzés a vacinas e tratamentos contra doenças humanas, Goodall teve conversas ocasionais com Collins, alguém que talvez seja o exemplo máximo em termos de profissional de laboratório. "Fiquei impressionada desde nosso primeiro encontro", comentou acerca de Collins. "Ele concordou que algo deveria ser feito e o fez."
O caminho que levaria às últimas decisões começou em junho de 2010, quando o NIH começou a transferir 186 chimpanzés que estavam vivendo "semi-aposentados" em Alamogordo, no Novo México, de volta à vida de utilização em pesquisas. Eles iriam para o Instituto de Pesquisas Biomédicas do Texas.
"Foi isso o que desencadeou todo o movimento", contou Sarah Baeckler Davis, da Aliança de Santuários de Primatas da América do Norte. "Foi quando todos nós começamos a gritar contra a transferência dos chimpanzés."
Os animais tinham sido usados em pesquisas pela Fundação Coulston, na instalação de Alamogordo, fechada após muitas acusações de maus-tratos. A entidade Save the Chimps [Salvem os chimpanzés] trouxe alguns deles para a Flórida, onde existe o maior santuário de chimpanzés da América do Norte. Outros ainda estavam em Alamogordo, mas não estavam sendo usados em pesquisas.
Políticos conhecidos pediram uma revisão da necessidade de utilizar chimpanzés em pesquisas. Outros grupos de defesa dos animais se aliaram à causa.
O NIH cedeu, e Collins pediu ao Instituto de Medicina que realizasse o estudo. Divulgado em dezembro de 2011, o relatório concluiu que há pouquíssima necessidade de chimpanzés em pesquisas médicas. Os chimpanzés, segundo o relatório, devem ser usados apenas em casos necessários para a saúde humana, e, mesmo nessas situações, os animais devem ser abrigados em grupos sociais, com muito espaço e elementos adicionais.
No mês passado, Collins aceitou o relatório do comitê. "Boa parte das pesquisas conduzidas com chimpanzés não se justificavam mais, porque tínhamos outras maneiras de obter as mesmas respostas", disse ele. "Além disso, é preciso levar em conta que chimpanzés são criaturas especiais."
Os ativistas não defendem apenas os chimpanzés. Para Jane Goodall, "uma vez que você admite que não somos os únicos dotados da capacidade de pensamento e de emoção, isso levanta questões éticas sobre como usamos e abusamos de outros seres".
 
 
New York Times/F5.

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