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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Cuba começa a se preparar para a saída de cena dos Castro

A não ser que algo extraordinário aconteça, Raúl Castro será reeleito neste domingo como presidente de Cuba. Mas ventos de mudança podem estar a caminho do único bastião comunista das Américas.
Eleito em 2008 para substituir o irmão Fidel Castro após quatro décadas, Raúl defende a limitação do mandato das autoridades cubanas a dois termos. Se cumprir o que diz acreditar, hoje deve ser o início do fim de sua estadia no poder.
À medida que a velha guarda cubana se prepara para deixar o poder, os antigos revolucionários trabalham para garantir a sobrevivência do regime no futuro.
E isso significa encontrar um sucessor para Raúl Castro.
Até o momento, no entanto, o regime não tem dado muitas pistas. A prioridade é tocar as reformas que têm como objetivo reverter a ineficiência da economia fortemente controlada pelo Estado cubano.
 
PRESSÃO
O resultado mais óbvio das reformas tem sido a explosão de pequenos negócios, de manicures a jardinagem por hora. Tais atividades foram legalizadas na tentativa do governo de diminuir o peso da folha de pagamento estatal.
"Eu ganhava 400 pesos por mês (R$ 32). Agora consigo ganhar o tanto quando meu trabalho render", diz Eduardo García, que tem uma oficina de consertos de TVs e rádios. Uma das TVs de tela plana que espera conserto na oficina vale cerca de R$ 4.000, um bom indicativo das mudanças em curso na ilha.
Assim como outros meio milhão de trabalhadores autônomos, García não tem só o que comemorar. "É como se tivessem desatado nossas mãos, mas não os nossos pés. Estamos trabalhando sob muita pressão", diz. Ele reclama que o monopólio estatal sobre produtos importados e a falta de um mercado de peças dificulta muito seu trabalho.
"Mas, por 54 anos, ninguém pensou que isso pudesse vir a ser possível", diz. "É como uma máquina, lenta no início. Mas espero que as coisas melhorem", diz.
Como lidar com as grandes estatais que ainda dominam a economia cubana é o próximo desafio do novo governo a ser formado a partir deste domingo.
O mais novo experimento do governo Castro será dar maior autonomia às empresas, para impulsionar a eficiência. Outra medida deve limitar o número de cooperativas, com exceção da agricultura.
Uma citação de Raúl Castro que circula por Havana dá o tom das mudanças. "A batalha da economia é hoje, mais do que nunca, nossa principal tarefa".
 
TAREFA
"Trata-se de uma batalha e o futuro de Cuba depende dos resultados", afirma o economista Jan Triana, ao dizer que cinco décadas após a revolução Cuba está "reinventado o socialismo". "Ganhamos a principal batalha em 1990, quando a União Soviética desapareceu e Cuba ficou sozinha no mundo. Foi difícil, mas estamos vivos", diz.
Mas à medida que os novos deputados tomem seus assentos no Parlamento e os novos líderes de Cuba sejam indicados, a preocupação será a árdua tarefa que ainda existe pela frente.
Sob a presidência de Hugo Chávez, a Venezuela se tornou o principal aliado de Cuba, fornecendo quase todo o combustível que a ilha precisa a preços subsidiados. Chávez voltou a Caracas esta semana, depois de meses tratando de um câncer em Havana. Mas ele continua doente e não se sabe como será a relação entre os dois países caso Chávez saia de cena.
"Venezuela é uma peça importante no tabuleiro", diz Paul Hare, ex-embaixador britânico em Havana.
"O que acontecer em Caracas vai determinar o quão rápido pode ser a abertura da economia em Cuba, se haverá a adoção de uma solução ao estilo chinês, caso a Venezuela corte os subsídios aos combustíveis. Daí a urgência das reformas", diz.
Ainda assim, o passo continua lento. "Sem pausa, mas sem precipitação", já disse Raúl Castro.
 
GANHO
O objetivo do sistema é ajustar-se sem ruir. Mas a relação entre o estado e os cidadãos já está mudando. "Todas essas medidas que fazem os cidadãos economicamente independentes do estado estão criando um sentimento de liberdade nas pessoas", diz o escritor e ensaista Leonardo Padura. "É um ganho importante para a sociedade cubana", diz.
A introdução de um imposto de renda é um claro sinal dessas mudanças, à medida que o estado mais e mais depende do imposto recolhido entre os cubanos. "Eles [autônomos] são o elemento dinâmico da sociedade cubana. Creio que a abertura em Cuba não virá pelas organizações políticas, para pela quebra das barreiras levada a cabo pelos trabalhadores autônomos", diz o ex-embaixador britânico, Paul Hare.
As mudanças econômicas, no entanto, não têm sido acompanhadas de reformas políticas. Nas eleições deste domingo, 612 candidatos concorrem a 612 cadeiras no Parlamento.
Um deles é o líder Fidel Castro, de 86 anos. Pela primeira vez ele apareceu no meio do público desde que se afastou do cargo em 2006, ao ir votar em Havana há algumas semanas.
Sete anos após a aposentadora de Fidel, ainda não há sinais claros de quem deve substituir seu irmão Raúl.
A escolha do número dois do regime, o primeiro-vice-presidente pode dar alguma pista. O posto até agora tem sido ocupado por outro revolucionário octogenário. Uma das apostas é Miguel Díaz-Canel, 53 anos, membro do Politburo que cada vez aparece ao lado de Raúl Castro em eventos oficiais.
Mas pouco se sabe sobre o que acontece nos bastidores do regime cubano. À medida que a ilha entra em etapa decisiva de futuro político, a principal questão dos cubanos ainda permanece sem resposta.
 
 
 
BBC Brasil.

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