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domingo, 25 de novembro de 2012

Disciplina militar é segredo de escola com maior nota do PA no Enem

Colégio Rego Barros teve maior média do Enem 2011 no Pará (Foto: Luana Laboissiere/G1)O colégio federal Tenente Rego Barros foi a escola paraense com a maior média geral do Enem 2011, conforme dados divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) na última quinta-feira (22). Com uma média de 626,8, a escola se destacou entre os colégios de Belém.
 
O critério utilizado para inclusão de uma escola na lista divulgada pelo Ministério da Educação (MEC) é o mesmo do sistema "Prova Brasil", apenas com unidades em que pelo menos 50% dos alunos matriculados e com o mínimo de dez alunos que estavam concluindo o ensino médio participaram do exame. Os números levam em consideração os dados do Censo Escolar.
 
Do ensino fundamental ao médio, o uso do uniforme completo é exigência para poder frequentar as aulas (Foto: Luana Laboissiere/G1)
 
 
Disciplina de quartel

 Um total de 1.540 alunos está matriculado na escola de ensino fundamental e médio Tenente Rego Barros. Desse montante, 340 estudantes estão distribuídos em 12 turmas de ensino médio que preparam candidatos para exames vestibulares no estado e em todo o país. Cerca de 100 alunos integram as turmas do terceiro ano, que comportam apenas 30 estudantes por sala.
Comandar a complexa estrutura cabe à união de diversos profissionais: a diretora geral Deusélia Nogueira, a diretora administrativa Anahy Treptow, e a diretora pedagógica Marlete Araújo, que, com o apoio e a supervisão militar do Tenente Coronel Joan, mantêm a ordem, o rigor e a disciplina que tornaram o Rego Barros uma referência em educação no estado.
“A escola é maior que todos nós, é parte da gente. Isso aqui é uma família. E como toda família, também temos problemas, que são superados com a cooperação e o envolvimento de todos”, resume Anahy Treptow, ex-aluna do Rego Barros e hoje à frente da direção administrativa. As reuniões com a equipe de 120 professores e os demais funcionários que atuam na escola acontecem semanalmente para mapear os problemas e buscar as soluções para as ocorrências do cotidiano.
 
 
 Deusélia Nogueira, Anahy Treptow e Marlete Araújo, com o apoio do supervisor militar Tenente Coronel Joan, comandam a escola Rego Barros (Foto: Luana Laboissiere/G1) 
 
Fazer parte do corpo discente do Rego Barros não é tarefa fácil. A direção geral da escola informou à reportagem do G1 que a instituição se trata de uma escola assistencial da Aeronáutica, que recebe como alunos os filhos ou familiares de militares da instituição. Porém, a direção esclarece que 36,2% do total de alunos matriculados é composto por civis sem vínculo militar. Até 2007, para ingressar na escola era necessário se submeter a um concorrido processo seletivo.
De acordo com a diretora geral Deusélia Nogueira, o Rego Barros não recebe dotação orçamentária. Por essa razão tem como fonte de recursos a contribuição mensal dos responsáveis financeiros dos alunos. O valor, que varia entre R$ 67,00 até R$ 237,00 (conforme a patente do militar responsável pelo aluno), é reajustado segundo o índice que regula o aumento do valor das mensalidades escolares. Com o pagamento desse valor mensal são quitadas as despesas fixas da escola.
“O apoio que recebemos do Ministério da Educação (MEC) vem com os livros didáticos que são distribuídos aos alunos, a merenda escolar e os equipamentos de informática que estão nos laboratórios e são usados pelo alunado”, esclarece a diretora geral.
 
Um total de 1.540 alunos está matriculado na escola que oferece ensino fundamental e médio. (Foto: Luana Laboissiere/G1)
 
Comum à rotina das escolas militares, a disciplina está na ordem no dia como a letra do hino nacional, cantado diariamente no momento de entrada dos alunos. E não para por aí: o uniforme se alinha ao rigor. Em duas versões: blusa branca com calça de malha leve, usada para atividades físicas, e o conjunto de camisa azul clara, calça de tecido azul escuro, sapatos pretos e meias brancas, os itens dos uniformes são conferidos cotidianamente pela equipe de inspetores que circula nas dependências da escola. O uso de roupas civis é permitido apenas em três ocasiões distintas: dia de Carnaval, festa junina e recebimento de boletim escolar, como aconteceu nesta sexta-feira (23), data em que a reportagem visitou a escola.
A rotina de estudos não é diferente. Os alunos têm aulas de segunda à sexta-feira, com sábados reservados à aplicação de testes, avaliações e simulados ao estilo ENEM. O início das aulas ocorre pontualmente às 13h, com encerramento às 18h. Mas a carga horária é complementada três vezes durante a semana pela manhã, com entrada às 7h e término às 11h15. Atrasos, claro, acontecem, porém, devem obedecer a uma tolerância, cronometrada, de 10 minutos.
“O atraso é registrado na ficha do aluno, e conforme o número de infrações cometidas, somadas a outras infrações, cabe uma medida que dependendo da gravidade, pode ser alvo de advertência, suspensão e até expulsão”, esclarece a diretora pedagógica Marlete Araújo.
De acordo com a direção, as aulas complementarem pelo turno da manhã foram uma alternativa encontrada para dar cumprimento ao espartano cronograma de 43 aulas semanais a que devem obedecer os alunos do último ano do ensino médio.
 
lunos concluintes do ensino médio comemoram colocação no ENEM (Foto: Luana Laboissiere/G1)
 
Após conversar com grupos de alunos às vésperas da conclusão do ensino médio, cada um conta a própria fórmula que desenvolveu para garantir ao Rego Barros o primeiro lugar no pódio do ENEM no estado do Pará.
“Eu acredito que nós já estamos à frente por sermos poucos alunos por sala, diferente do que se observa na maior parte das escolas e cursinhos de Belém. No final, isso também faz a diferença porque favorece a concentração e o foco na preparação.”, teoriza Bianca Bandeira dos Santos, estudante de 17 anos.
Candidato ao curso de Medicina de uma universidade federal, Victor Augusto Domingues, de 17 anos, credita à exigência o perfil de sucesso dos alunos. “A escola é muito exigente de um modo geral. A nota mínima para ser aprovado é 7. O nível das provas também é alto. Ou seja, você sempre tem que estar estudando, focado, para manter as notas altas, e isso exige cada vez mais de você. E é uma exigência que só traz benefícios para o aluno e para a escola.”
Para o estudante Willian Eduardo Barbosa, de 17 anos, a autoconfiança conquistada no dia a dia da escola é um diferencial de peso. “Eu me sinto feliz de verdade por ter a oportunidade de estudar aqui; uma chance que não são todos que têm. Com as aulas que temos, com o nível dos professores com que podemos contar, eu não posso me sentir de outra forma senão bem preparado, confiante para ingressar no curso de Engenharia Civil da UFPA. E nossa preparação aqui é tão forte, que pouco sobra o que complementar em casa.”, ensina o candidato.
Ana Belle Lima, de 16 anos, acredita que o bom resultado é apenas a fase final de um longo processo, iniciado ainda quando aprenderam as primeiras letras, e na mesma escola. “Para quem estuda aqui, percebe que a preparação vem da base. O trabalho é desenvolvido desde as séries iniciais. Muitos de nós crescemos juntos, e chegamos juntos até o terceiro ano. A gente até brinca que ninguém aqui é concorrente, os alunos de fora (das outras escolas) é que briguem pelas vagas”, assevera a jovem.
Segundo Deusélia Nogueira, que exerce a direção desde 2007, a fórmula não vem pronta. “Se podemos dizer que existe essa fórmula, ela é feita de compromisso e dedicação com o trabalho realizado todos os dias dentro e fora de sala de aula. O resultado, sempre positivo, é apenas um reflexo, a merecida consequência de todo esse empenho”.
 
 
Mente sã e corpo sadio

 A prática do esportes é outro item indispensável no currículo da escola, com aulas desde o nível básico até o último ano do ensino médio. “O exercício, além de manter o corpo forte e saudável, proporciona a socialização dos alunos em modalidades como o futsal, basquete, vôlei e handebol. É o velho princípio do ‘mens sana in corpore sano’”, explica a diretora pedagógica Marlete Araújo.
Neste ano, o Rego Barros agregou às opções de esportes já existentes, a prática do pilates e da capoeira, que vem sendo bem recebida entre os estudantes. Além dos esportes, atividades como o clube de xadrez e os grupos de música e de artes cênicas procuram estimular a criatividade e desenvolver as habilidades extra sala de aula.
André Lopes Valente exibe, orgulho, a medalha de ouro conquistada na 15ª Olímpiada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (Foto: Luana Laboissiere/G1)
Além dos bons resultados no ENEM e em exames vestibulares, a escola também comemora conquistas em outras competições discentes: as olimpíadas escolares. Na premiação de 2011 da 7ª Olimpíada Brasileira de Matemática da Escola Pública, um aluno levou a medalha de ouro, dois estudantes faturaram a prata e mais dois discentes ganharam o bronze. Além destes, outros 17 estudantes da escola receberam menções honrosas.
Em 2012, André Lopes Valente, aluno do terceiro ano do ensino médio, conquistou a medalha de ouro na 15ª Olímpiada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (XV OBA 2012), concurso ocorrido em maio e que contou com a participação de concorrentes de todo o país.
 
 
G1

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